Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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MONGA A MULHER-MACACO

Escrito por : Geraldo Bernardo em terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 | 4:59 PM


por  Geraldo Bernardo

Na seca de setenta se criou a emergência,
 era uma maneira de tirar o povo da indigência.
O governo botou a cabroeira para trabalhar,
 tinha gente de todo lugar, procurando se alistar.
João Caco, que era feitor, alistou uma turma de eleitor
e achando ainda pouco,
aproveitou para também alistar
 os bichos de sua criação:
a vaquinha mimosa, um jumento,
uma cabrita e até o porco de Bastião.
O certo é que mulher, menino e defunto,
tava todo mundo junto.
Quem alistava era os “coroné”,
que ficavam com o dinheiro
e servia feira para os mané,
 teve gente que ficou rico!
 Oxente!
Valdemar de Eurico
construiu um açude enorme.
Nas terras de Seu Cosme
foi feita tanta benfeitoria,
que só para contar ia levar mais de três dias.
Para pegar um pouquinho do dinheiro do governo
de tudo começou aparecer.
Nas frentes da emergência
 de tudo tinha para vender:
água de cheiro para os soldados se perfumar,
lenço de seda para os “coroné” do lugar,
muita chita e muito fustão
 pra fazer roupa pros cabras da região.
Até mesmo a margarina,
ainda pouco conhecida,
era vendida como manteiga da mais fina.
Agora o que causou maior rebuliço,
foi uma bendita atração.
O Gran Circo Alemão que acampou na Estação.
A partir da sexta-feira começava a latumia,
num carro velho todo em engembrado e na maior gritaria,
um cabra com a cara pintada dava conta do recado,
berrando por todo lado:
-          Venham assistir, a maior novidade do planeta,
o Circo Chegou: tem globo da morte,
malabarista, dançarinas, mágicos
e a maior atração Monga a mulher que vira macaco,
você não pode perder gozadissmos palhaços
que fazem todo mundo rir.
Pedro Juvino, cabra muito do arretado,
preparou-se para no domingo ir assistir a novidade
 e disse que era abestado
quem não fosse ver aquela diversão.
Quando chegou no domingo,
numa carroceria de caminhão,
juntou-se uma comitiva de matutos 
em direção a cidade
para assistir a novidade,
tomar umas e outras e fazer estripulias,
saíram cedo do dia de cabelo bem penteado,
castigado na brilhantina,
 calça boca de sino, camisa de volta o mundo,
 homem rapaz e menino, pente flamengo no bolso,
espelho com mulher nua.
Mais animados que mosquitos em cu de cachorro.
Subiram e desceram morro
e até que enfim foram entrando na rua.
 Como ainda era cedo
ficaram tomando umas canas,
fazendo planos pra semana, sempre andando junto.
Parecia até enterro de defunto,
aquele magote de gente
caminhando na mesma direção,
entraram no Casarão,
que antigamente foi um bordel da estação.
E, quando fez oito horas em ponto,
estava todo mundo pronto,
de ingresso na mão para assistir o circo.
Tinha nego já meio bêbado, quem não bebia
chupava picolé ou era abacaxi que comia .
E, então, começou o espetáculo,
um cabra bem arrumado ia anunciando as atrações.
O circo lotado,
todo mundo muito apertado se acotovelava na arquibancada,
na frente ficava a meninada.
As mocinhas comendo pipoca e a matutada
babando com as artimanhas do mágico
e as pernas das dançarinas.
Antonio de Izaltina assobiava,
sentava e levantava,
parecia nunca ter visto,
coisa no mundo mais bonita.
E, era tanto artista,
tinha palhaço e malabarista.
Foi quando chegou o momento
do circo mais esperado.
O tal do anunciador fez aquele rapapé,
pediu silêncio a platéia, disse:
-          O que vocês vão ver agora é uma mulher,
porém coitada, com ela a natureza foi malvada,
nasceu com uma certa sina e a pobre desde menina,
vive nesta maldição,
mesmo sendo uma mulher bonita
se transforma em um macaco peludão.
Todo mundo ficou de pé para assistir a apresentação,
as luzes foram mudando,
uma mulher muito coxuda, apareceu se rebolando,
a música foi aumentando e logo em dois minutos
era um macaco que estava naquela jaula gritando
tentando se libertar das barras de ferro,
os matutos de olhos abuticados pensavam que aquilo era o inferno.
O locutor gritava:
-          Monga não faça isto, não saia daí.
Monga não se enfureça,
por favor não perca a cabeça.
De nada adiantou.
O macaco arrebentou o cadeado, saiu de dentro da jaula,
foi uma correria danada,
gente pra todo lado, uma gritaria infernal.
Aí não deu outra.
Pedro Juvino chamou Juscelino
e partiu pra cima da fera.
Os outros cabras foram ajudar, e foi tanto do tabefe,
pescoção, azunhada, mordida e beliscão
que a tal da Monga correu em busca da rua.
Foi então que piorou a situação
os cabras perceberam a enrolação,
viram que o macaco era um negrão,
vestido numa fantasia.
Menino o pau comeu no centro,
só parou quando chegou o delegado
 na famosa Amada Amante,
mas já era tarde, a lona do circo tava rasgada,
a arquibancada quebrada, e na estrada empoeirada
 só se ouvia o ronco do caminhão, desse dia em diante,
não houve mais quem botasse circo na estação. 
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23/02/2011, 11:27

um bela homenagem...

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Obrigado!

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