Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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NOITE LÚGUBRE - do livro NORDESTIA.

Escrito por : Geraldo Bernardo em segunda-feira, 14 de janeiro de 2013 | 6:49 AM

Noite Lúgubre
Geraldo Bernardo

Rodolfo passou por aqui, faz tempo, acho que ninguém mais lembra dele. Trazia consigo
um sorriso distante, parecido com os Alpes, tão sozinho que não consigo descrevê-lo.

Foi um verão em que todo mundo se mandou para o sul. É uma história de migração, parece passarinho. Ele apareceu como uma pessoa limpa, de faces claras, era polido e me convenceu a ser seu amigo mesmo arrastando comigo fardos de sua solidão, onde nos pareceu a vida, um arrastar de dias. Certo dia conseguiu uma garrafa de bom vinho, ficou sorvendo cada taça como que se lesse meus pensamentos. Tinha um jeito quase mecânico de beber, anos de alcoolismo. Saímos daquele bar quase trôpegos, ou mais, abraçados como fazem entre si os velhos amigos; sonâmbulos, ébrios e trôpegos, acabamos dormindo no mesmo leito, o que nos fez acordar calados.

Não quis mais sair lá de casa. Contou-me tantas histórias, cada vez com mais vigor, como se sua presença fosse luminar; me fazia sonhar, mesmo sem o menor senso de subserviência, deitei-lhe os olhos e deixei-me levar pela mentira de suas fantasias. Como se fora mago, mulher, árvore ou energia, falava sempre no almoço, tomando-me como platéia. Às vezes marejávamos os olhos de rir; Rodolfo mostrava todo seu esplendor naqueles olhos castanhos e longos cabelos encaracolados, gostava de ser exclusivo, sempre o centro das atenções, nunca multidões.
Aconteceu o inesperado. Emudecidos, dentro de nossos pequenos mundos, tomamos nossa sopa alheios um ao outro. Rodolfo levantou-se em direção à porta sem dizer palavra, senti que era o momento em que partia como se fora um anjo que saía lá de casa; tomei a iniciativa de falar alguma palavra que ficou retida em minha garganta. Cabisbaixo, fui até ele; estava desfigurado e começou a falar histórias de bichos e gente, do segredo dos elefantes quando precisam partir para seus cemitérios solitários. Sentia esvaziar-me a alma, num momento lúgubre, quando o vento nas árvores tocava uma sinfonia mórbida, rompeu-me a fúria animalesca que ensandece os homens e fazem as guerras.

Quando todos saíam de suas casas, Rodolfo estava rijo e frio, apoiado em meus braços dormentes; levaram-nos, não sei; vejo apenas uma cena, a lâmina penetrando seu ventre, o cheiro de sangue e o sorriso de Rodolfo, fico aterrorizado e novamente vem Rodolfo em meu sonho encantar-me com seu sorriso.
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